Copa do Mundo 2014: Dia 32, Final

Alemanha campeã!

Alemanha campeã!

Como era de se esperar, a final teve um placar magro, com os jogadores cumprindo bem suas funções táticas. Mas mesmo assim, foi um grande jogo. Taticamente perfeito, com boas chances de gol, mas, sempre tenso, como uma final deve ser.

A Argentina começou melhor o jogo. O técnico Sabella estudou bem a forma que a seleção alemã vinha jogando nesta Copa: desde sua estreia, atropelando Portugal por 4×0, passando pelo difícil empate de 2×2 contra Gana, a vitória protocolar de 1×0 contra os EUA, o sofrimento na vitória por 2×1 na prorrogação contra a Argélia, a correção tática na vitória por 1×0 contra a França e seu grande jogo nesta Copa: o massacre de 7×1 contra o Brasil.

Sabella viu e entendeu o que aconteceu em cada um destes jogos. Entendeu a evolução da Alemanha e soube jogar contra eles: povoou o meio de campo, priorizou o cuidado na defesa e resolveu usar os contra-ataques como sua principal arma. A Argentina não tinha a posse de bola (porque abdicou dela para ter o contra-ataque) mas dominava completamente o jogo. Eles tiveram chances reais de vencer o jogo.

Joachim Löw também fez bem seu trabalho, mas não precisava se preocupar tanto: tinha o melhor time e todos os seus titulares à disposição. Todos os seus titulares, exceto, é claro, seu lateral direito improvisado Mustafi (cuja posição é, originalmente, de zagueiro), que se machucou no jogo contra a Argélia e não teve mais condições de jogar. Lahn, que até então vinha jogando como volante, voltou para a lateral direita (sua posição de origem), abrindo espaço para Schweinsteiger voltar em definitivo ao time titular (no início da competição ele estava contundido e foi voltando ao time aos poucos).

A piada era que sorte ajudou Löw a montar o seu time no decorrer da competição (difícil dizer se Lahn não voltaria naturalmente à lateral quando Schweinsteiger tivesse condições de jogar…).

A sorte (ou a ausência dela) ainda mexeria mais uma vez na escalação da Alemanha: já no aquecimento para o jogo, Khedira sentiu uma contusão muscular e não pôde entrar em campo. Foi substituído por Kramer.

Acontece que (como eu disse no início do texto) a Argentina começou dominando o jogo. Löw precisaria mexer no time rapidamente para controlar o jogo. E a oportunidade mudar logo apareceu: ainda no início do jogo, Kramer teve uma dividida com Garay e bateu a cabeça. Zonzo, ele ainda tentou jogar mas teve que ser substituído. Como não havia um reserva para direto para Kramer, Löw teve que improvisar um pouco e efetivamente mudar o jeito do time jogar: colocou Schürrle e recuou um pouco Özil. Foi a mudança que o time precisava: a partir daí o jogo ficou mais equilibrado.

Do lado da Argentina faltava sorte: Higuaín teve a chance de colocar a Argentina na frente: em uma bola absurdamente mal recuada de Kross para Neuer, o argentino ficou sozinho na cara do gol e… Chutou pessimamente para fora.

Messi, que fazia um bom jogo (não bom o bastante para o que se esperava dele, mas bom o bastante para se livrar com facilidade da marcação de Hümmels, o melhor zagueiro desta Copa na minha opinião), também teve mais de uma chance de matar o jogo, mas não conseguiu marcar.

Faltava sorte aos argentinos. E faltava também Di María (contundido, ele não conseguiu se recuperar a tempo de jogar a final). Especialmente na prorrogação, quando seu preparo físico costuma desequilibrar…

O tempo passava e o cansaço pesava. Vieram as substituições, mas o banco de Sabella era mais fraco do que o de Löw. Palacio entrou no lugar de Higuaín, o que fez o nível do ataque argentino cair. Agüero (que entrou no lugar de Lavezzi) também pouco contribuiu. Do lado alemão, Löw tirou o veterano Klose (o único jogador em campo que já havia participado de uma final de Copa, em 2002) e colocou o jovem Götze, de apenas 22 anos (nascido já na Alemanha unificada, em 1992, viu Klose pela tv perder aquela final de 2002, aos 10 anos de idade).

As substituições foram fundamentais no resultado final: Palacio teve a última grande chance argentina, mas faltou qualidade para dominar sozinho, na entrada da área e chutar. Já Götze…

A Alemanha tinha mais uma substituição para fazer, e tudo indicava que seria o exausto Schweinsteiger. Ele jogou esta Copa toda no sacrifício. Começou no banco por causa de uma contusão, e, no decorrer da competição, foi recuperando sua forma física e sua posição no time titular. Taticamente não cumpria a mesma função que o consagrou nas Copas de 2006 e de 2010. Em 2014 ele não tinha a liberdade (ou a condição física) de fazer seus avanços à linha de fundo para cruzar a bola ou ir à entrada da área para arriscar chutes de longe. Essa função agora era cumprida principalmente por Kroos. Schweinsteiger teve um papel fundamentalmente mais defensivo.

Talvez por isso ele tenha passado a impressão de que apanhou muito nesta final: parecia ser o jogador com o uniforme mais sujo de tanto cair no chão em divididas difíceis. Já no final do jogo, completamente exausto, ele ainda tomou um golpe no rosto em uma dividida com Agüero e saiu sangrando de campo para ser atendido. Parecia que ele seria substituído. Parece que ele tomou um ponto ali mesmo, na lateral do gramado, querendo voltar logo para o campo (enquanto todos os alemães se revoltavam com o árbitro por não ter dado nem um cartão amarelo para Agüero).

Schweinsteiger não iria deixar o campo no jogo mais importante da sua vida: voltou para o campo, exigindo mais de seus companheiros.

Neste exato momento, em um contra-ataque, Schürrle avança pela esquerda, enquanto Götze entra na área, nas costas de Demichelis. Schürrle cruza para Götze matar a bola no peito, sozinho no canto da pequena área, e chutar sem deixar a bola cair no chão.

Finalmente, aos 113 minutos de jogo (e após 485 minutos minutos desde o gol sofrido contra a Nigéria), a “fraca” defesa argentina tomou um gol (gol, diga-se, do time que atropelou a “fortíssima” defesa brasileira).

Gol do título.

Götze marcando o gol na prorrogação

Götze marcando o gol na prorrogação

O título alemão faz justiça a uma geração de grandes jogadores que começam a se despedir da seleção alemã: Lahm, Schweinsteiger e Podolski são os principais nomes da equipe que começou a ser formada na Euro 2004 e na Copa de 2006 para aposentar os sobreviventes de 2002 (dos quais apenas Klose, já aos 36 anos, continuou a jogar na seleção – em grande estilo, deixando seu nome na história como o maior artilheiro de todas as Copas).

Lahm, aos 30 anos, anunciou poucos dias depois da final que não jogaria mais pela seleção. Podolski já não era mais titular do time (pouco jogou em 2014) e Schweinsteiger, com 29, não é certeza para 2018.

Mas a passagem de gerações não preocupa mais a Alemanha: em 2010 apareceram Müller, Özil, Kroos, Khedira e Neuer (entre outros). Em 2014, foi a vez de Götze, Kramer e Schürrle

Com a incrível passagem de gerações que têm marcado a Alemanha nas últimas 3 Copas, repito meu comentário feito em 2010: A Alemanha certamente chegará na próxima Copa como uma das grandes favoritas.


Após um início com números incríveis de gols, esta Copa acabou empatando o recorde de 1998 como as Copas com mais gols na história: foram 171 gols nos 64 jogos (média de 2,67 gols por jogo – contra uma média de apenas 2,3 na Copa de 2010).

A Alemanha terminou com o melhor ataque da competição (com 18 gols) mas o artilheiro foi o colombiano James Rodriguez, com 6 gols e 2 assistências (Müller ficou em segundo lugar, com 5 gols e 3 assistências – já são 10 gols em Copas do alemão ainda com 24 anos de idade – o recorde de Klose tem tudo para ser quebrado muito em breve).

Completando a lista de prêmios individuais da Copa, Neuer foi eleito melhor goleiro, o francês Pogba foi o melhor jogador jovem e o constrangido Messi foi eleito o melhor jogador da Copa (ficou chatão ter que receber este premio logo depois de ter perdido uma final…).


ALEMANHA 1 X 0 ARGENTINA

Alemanha: Neuer; Lahm, Boateng, Hümmels e Höwedes; Kramer (Schürrle, aos 31 min. do 1°t), Schweinsteiger, Özil (Mertesacker, aos 15 min. do 2°t da pror.) e Kroos; Klose (Götze, aos 42 min. do 2°t) e Müller
Técnico: Joachim Löw

Argentina: Romero; Zabaleta, Demichelis, Garay e Rojo; Mascherano, Biglia e Perez (Gago, aos 40 min. do 2°t); Messi, Higuaín (Palacio, aos 31 min. do 2°t) e Lavezzi (Agüero, no intervalo)
Técnico: Alejandro Sabella

Data: 13 de julho de 2014
Horário: 16h00 (de Brasília)
Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Capacidade do estádio: 74.738
Público: 74.738
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Assistentes: Renato Faverani (ITA) e Andrea Stefani (ITA)
Cartões amarelos: Schweinsteiger, aos 28 min., Höwedes, aos 32 min. do 1°t (ALE); Mascherano, aos 18 min., Agüero, aos 20 min. do 2°t (ARG)
Gols: Götze, aos 7 min. do 2°t da prorrogação
Súmula do jogo: aqui

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